Ditado, Uma Prática Ultrapassada?

Quando se fala em ditado, muitos imaginam a seguinte cena: a professora com um aspecto sisudo, andando de um lado para o outro da sala com um livro na mão. Alunos com o olhar assustado e as mãos trêmulas, com medo de perder ou errar alguma  das inúmeras palavras que a professora irá disparar.

Hoje é comum tomar o ditado como uma prática antiquada e torturante, empregada pelos professores carrancudos de antigamente para verificar a ortografia dos alunos.

No entanto, é um erro banir o ditado do processo de alfabetização, já que, se bem empregada, essa prática pode ser uma ferramenta valiosa para solucionar dificuldades de escrita, trabalhar a memória auditiva e visual das crianças, a atenção, dentre outras habilidades.

Benefícios do ditado

Nosso sistema ortográfico exige que usemos tanto a memória auditiva quanto a memória visual. No ato da escrita, temos que nos basear nos sons das palavras, mas também é preciso considerar a forma gráfica, a maneira como elas são escritas.

Exemplo de como isso funciona na prática é pensar na palavra “hora”. Se durante o ditado de um texto fosse dita essa palavra, como você a escreveria? Estamos nos referindo a uma unidade de medida de tempo, usando o “H” no início. Mas também poderia  haver confusão com a palavra homófona “ora” (que pode ser uma conjunção, um advérbio ou um interjeição). Nesse caso, também é preciso  analisar o contexto em que a palavra foi empregada para decidir como escrever.

O ditado contribui para reflexões como essas e ainda estimula diversas habilidades que a criança precisa desenvolver durante o processo de aprendizagem da escrita, tais como:

  • Concentração;
  • Escuta ativa;
  • Reflexão sobre o que se escreve;
  • Aplicação de regras de ortografia, pontuação e gramática;
  • Como fazer o espaçamento correto entre as palavras;
  • Aplicação correta de separação de palavra ao final de uma linha (translineação).

Diante de tantos benefícios, é conveniente usar o ditado como uma ferramenta  no processo de alfabetização, tornando sua prática mais orientada para a criança e, ao mesmo tempo, consolidando uma variedade de habilidades no processo.

Com criatividade e disposição, você pode praticar o ditado com as crianças em casa sem medo de assustá-las.

Confira estas dicas e tire ainda mais proveito dos ditados:

Introdução de vocabulário – Para os pequenos que acabaram de aprender a escrever, o ditado de palavras é uma ferramenta eficiente para aumentar o vocabulário e fixar algumas regras de ortografia.  Após a realização do ditado, peça à criança para circular as palavras cujos significados desconhece e depois consultar o dicionário.

Palavras mais importantes em um texto – Leia um texto breve (de 1 ou 2 parágrafos) em voz alta uma primeira vez e peça para a criança ouvi-lo apenas. Leia o texto mais uma vez, pedindo que ela anote as palavras e expressões que considerar mais importantes no texto. Ela terá de ficar bastante atenta! Com base nessas anotações, oriente a criança a reescrever o texto com suas próprias palavras.

Ditado seletivo – Escolha um texto e, antes de começar o ditado, peça  para a criança focar a atenção em uma determinada categoria gramatical. Por exemplo: “escreva apenas os verbos que ouvir no texto” ou “apenas os adjetivos” e assim por diante.

Variedade de gêneros – Uma maneira de tornar a prática mais estimulante é usar diferentes tipos de texto: ora uma poesia, ora uma fábula, ora um diálogo, ora uma lista de compras, ora uma receita de bolo…

Criança no comando – As crianças vão adorar esse ditado! Peça para elas imaginarem que a leitura do texto é um áudio que está tocando no aparelho de som. Você começa a ditar e então elas poderão dar comandos como “pare”, “rebobine”, “continue”.  Essa prática permite que a criança não se sinta intimidada por ter perdido algum trecho do ditado, podendo voltar a ouvir uma frase se necessário.  Entretanto, para que a atividade não se transforme em uma verdadeira confusão, diga à criança que ela só poderá usar esses comandos 2 ou 3 vezes durante todo o ditado. Se estiver realizando a atividade com mais de uma criança, peça que elas ergam a mão antes de dizer o comando. Assim, fica sinalizado que cada uma terá a sua vez.

Interação entre os pares – Para esta atividade é interessante que as crianças tenham a mesma ou pouca diferença de idade. Se não tiver crianças com idades tão próximas em casa, junte os primos ou um grupo de amigos de seu filho para realizá-la. Leia um texto breve para as crianças. Primeiro elas devem apenas ouvir. Então, peça que escrevam todas as passagens de que se lembrarem. Leia o texto novamente. Peça para repetirem o mesmo processo, completando trechos que faltaram da última vez.

Após o término do ditado, peça para as crianças se reunirem. Elas devem, juntas, completar os trechos do ditado que faltam ou reescrever algumas passagens.

Leia novamente o texto. Em seguida, deixe que as crianças façam as últimas correções.

Para finalizar, deixe que o grupo veja o texto original e compare suas versões. Esse momento é essencial, pois permite que elas tomem consciência dos aspectos da linguagem em que têm mais dificuldade, como ortografia e pontuação.

Ditado “bate e volta” – Seguindo as mesmas orientações da dica anterior, reúna um grupo de crianças com idades próximas. É preciso de pelo menos duas crianças para realizar esta atividade. Fixe em uma parede de sua casa um texto. As crianças devem trabalhar em dupla, tendo a missão de reescrevê-lo.  Uma fica responsável por escrever, enquanto a outra deve ir até a parede,  ler uma frase do texto e voltar para dizê-la ao companheiro responsável pela escrita. Caso a criança esqueça o que leu, ela poderá voltar à parede  e repassar o conteúdo ao companheiro. A dupla fará isso frase por frase até completar o texto.

Ao final, deixe as crianças verem o texto original. Corrijam juntos o texto e conversem sobre as principais dificuldades.

Gostou das sugestões? Experimente em casa com seu filho.

 

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